Fernando Pessoa Mensagem
A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.
O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.
Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal. Fernando Pessoa, in Mensagem
O dos Castelos sistematização
Neste poema, Fernando Pessoa descreve a Europa como um ser feminino deitado sobre os cotovelos, fitando (ter presente a diferença semântica entre «olhar» e «fitar») «De Oriente a Ocidente», com «românticos cabelos» (que representam a herança cultural do Norte da Europa) e «olhos gregos» (que simbolizam a herança cultural do Sul europeu, a herança cultural grega). Os versos 9 e 10 retomam a forma verbal «fita» e caracterizam o olhar da Europa: «esfíngico e fatal». Esta dupla adjectivação associa, à atitude expectante e contemplativa, as noções de enigma e de mistério (convém rememorar a lenda associada à Esfinge egípcia) com que a figura feminina «fita» o «Ocidente», que representa a sua vocação (da Europa, leia-se) histórica, isto é, o «futuro» que já desvendou no passado e que promete voltar a repetir-se futuramente. Ora, no último verso, Portugal é apresentado como o «rosto» da Europa, onde se situa o «tal» olhar que «fita» o «Ocidente». O início da descrição apresenta a Europa, simbolicamente, como um espaço decadente e sem vigor. De facto, a repetição de formas verbais pertencentes aos verbos «jazer» e «fitar» sugerem a imagem de decadência que marca a descrição do velho continente. O verbo «jazer», que significa “estar deitado” e “estar morto ou como morto”, destaca a imobilidade e a letargia em que a Europa se encontra. Por outro lado, o verbo «fitar» remete para um estado de