Fernando Pessoa - Gato que brincas na rua
Para o gato é completamente indiferente onde brinca
Como se fosse na cama
COMPARAÇÃO
Invejo a sorte que é tua
Fernando Pessoa tem inveja do gato porque este é inconsciente
Porque nem sorte se chama.
Pessoa inveja realmente a “sorte” do gato, que tem a sorte de ser inconsciente. Pode brincar sem pensar em mais nada – brinca na rua “como se fosse na cama”.
METÁFORA
Bom servo das leis fatais
Lei da morte
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
O gato não pensa no que sente
E sentes só o que sentes.
O gato é “bom servo das leis fatais”, ou seja, cumpre o seu destino sem se opor minimamente a ele – cumpre o desejo mais alto de
Reis, que é o de sentir o destino como coisa inevitável.
És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
OXÍMERO
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
ANTÍTESE
Pessoa, mais do que inveja pela falta de preocupação, inveja a simples felicidade que existe quando se vive plenamente as coisas sem pensar. "És feliz porque és assim" é uma expressão de profunda miséria, de quem observa e tem a consciência plena que é infeliz.
O sujeito poético inveja o gato por três razões:
1.
Tem "instintos gerais" e sente só o que sente, ou seja, não pensa sobre o que está a sentir, limita- se a sentir;
2.
É "um bom servo das leis fatais", isto é, não tenta contrariar as etapas inevitáveis da existência: nascimento, crescimento e morte;
3.
"Todo o nada que és é teu", ou seja, ao contrário do sujeito poético, o gato não pensa, não se questiona.
Assim, esta dor de pensar que o tortura leva-o a desejar ser inconsciente como a ceifeira e como o gato, que não pensam. O poema é constituído por três quadras em versos heptassilábicos (7 sílabas) e rima cruzada, segundo o esquema rimático a,b,a,b.
O poema parte de uma imagem, de uma cena do quotidiano, neste caso um gato a brincar na rua que o sujeito poético observa