FEMININO
O FEMININO - Como Simone de Beauvoir o caracterizou (e o viu caracterizado)
Apesar das primeiras discussões feministas terem sido feitas já no século XVIII, a partir da metade do século XX, começou-se a discutir de forma mais sistemática a condição e a história da mulher na sociedade, para concluir, como já vimos, que os seres humanos do sexo feminino sofrem uma opressão singular ao seu sexo.
Com esta constatação, aliada a um desconforto cotidiano experimentado na sua rotina insatisfatória, a mulher começa a se organizar em grupos, que reivindicam o direito de serem responsáveis pela sua própria tragédia. A revelação desta "opressão singular", conduziu o debate para a diferenciação (sem discriminação) entre os sexos, naquilo que ficou conhecido como "as questões de gênero".
A filósofa Simone de Beauvoir é quem, de forma mais contundente, discute a posição inferior que a mulher ocupa na sociedade, analisando os fatores desta subordinação. Em O Segundo Sexo (1949), grande clássico sobre o assunto, ela procura reconstruir a história e descobrir como e porque o sexo feminino se deixou dominar, perdendo a "guerra dos sexos". A autora considera os apelos antifeministas, calcados na religião e na filosofia, além das explicações científicas da biologia, da psicologia e do materialismo histórico, mostrando-os sob uma nova luz, o ponto de vista existencialista. Afirma que a mulher é, de fato, inferior, porém lembra que "ser é ter-se tornado, é ter sido feito tal qual se manifesta"1.
Do ponto de vista biológico, muitos tentaram definir a mulher pela "passividade" do óvulo, e o homem, a partir da "atividade" do espermatozóide, desconsiderando que a hereditariedade é ditada por ambos os sexos, e que homens e mulheres produzem gametas2. Além disso parece insuficiente definir a fêmea como condutora de óvulos e o macho como condutor de espermatozóides, pois ao contrário dos insetos e de outros