favela e cultura social
A favela é um território marginalizado, constituído no interior de uma sociedade fundada no mito da democracia racial. Como demonstra Flauzina (2008), tal mito foi utilizado não só para proibir a formação de uma identidade negra no Brasil como também para extinguir o conflito de raça existente na nação. Um das mostras desse conflito seria a segregação espacial, que lançou a população negra para as periferias de todo o país. Nesse aspecto poderíamos entender a favela como resultado de uma divisão racial, que, no discurso predominante, opera de forma silenciosa. Segundo Pinho (2003), no contexto brasileiro, o racismo só tem eficiência simbólica por meio de sua ocultação, uma vez que a exclusão racial foi substituída pela retórica nacional de mestiçagem brasileira. Assim é possível um racismo sem sujeito (os racistas) e sem objeto (os negros).Mesmo com recentes mudanças sobre o pensamento racial no Brasil, a cidade do Rio de Janeiro, que serviu de palco para a invenção da nacionalidade e, logo, da mestiçagem brasileira, redize continuamente tais silêncios nas leituras que são feitas sobre os territórios desta cidade: que situam de um lado, a cidade maravilhosa, a terra do samba, das belas praias e do carnaval e, do outro, as favelas e seus sujeitos perigosos. O preconceito contra os sujeitos e o outro lado da cidade parece não colocar em questão o mito da democracia racial. É como se a hierarquização sobre deliberados territórios da cidade não amedontrasse o mito da “sociabilidade carioca” que comemora a democracia e indistinção de classes, cores e culturas. Em uma cidade onde a mistura de raça é simbolicamente (re)atualizada, o discurso predominante silencia a referência à distinção de cores, substituindo-a pela classificação do local de origem – isto é, do local onde se mora. No entanto, o sujeito que emite o discurso predominante não tem um controle soberano sobre a divulgação de seus sentidos (BUTLER, 1997). Assim, o mesmo