A cultura popular e contra-hegemônica das favelas cariocas: uma análise crítica do movimento hip-hop
O presente trabalho pretende analisar a cultura oriunda da periferia da cidade do Rio de Janeiro, tendo como perspectiva a importância de uma cultura popular para a transformação da sociedade brasileira. Partindo do reconhecimento de que a cultura popular é um “misto de conformismo e resistência”, como afirma Marilena Chauí, entendemos que ela não se constitui plenamente em um movimento de contra-cultura, mas é por vezes permeada pelos valores conservadores hegemonicamente, difundidos. Dessa forma, identificaremos a diversidade de valores e acepções que permeiam o universo da cultura popular. Para tanto, será necessário percebê-la no contexto mais amplo da formação sócio-cultural, buscando demonstrar a centralidade adquirida pelas novas tecnologias, neste processo, além da importância da Indústria Cultural na instauração da hegemonia ideológica da classe dominante.
2. Introdução
O fenômeno da urbanização é uma das principais conseqüências da transição do modo de produção interno (colonial e escravista) à fase propriamente capitalista que acontece pós-industrialização, entre o fim do século XIX e início do século XX. O crescimento comercial e industrial clamava por mão de obra e atraía camponeses que viviam com dificuldades no interior agrário do país. Mesmo depois do fim da escravidão, a agricultura mantinha certas características coloniais, os latifúndios, a monocultura e as mesmas condições ruins de trabalho.
Carlos Nelson Coutinho assinala que esta passagem ao capitalismo se dá pela “via prussiana”. Retomando este conceito de Lênin e aplicando-o de forma ampliada, para além da agricultura, podemos compreender a “via prussiana” como o processo pelo qual acontecem as reformas de transição para o capitalismo “pelo alto”, sem a participação popular. Exatamente porque estas reformas foram resultado de um consenso entre as classes dominantes é que apesar da mudança no modo de produção, conservaram-se os traços de dominação e exploração do modo