Família versus Indivíduo
Falar sobre a família como foco de intervenção exige aprofundar a discussão sobre o que é uma família e como ela pode servir ou não de recurso em programas de intervenção; exige também problematizar um elemento básico do processo de intervenção: a comunicação entre técnicos que atuam na intervenção e a população- alvo. Assim, neste trabalho, sugere-se, num primeiro momento, algumas pistas analíticas que podem ajudar o técnico a perceber dinâmicas familiares em grupos populares do Brasil. Descobrimos assim que, da perspectiva espacial, redes de parentesco se estendem além do grupo consangüíneo e da unidade doméstica para esferas mais amplas. Da perspectiva temporal, as pessoas se inserem em uma sucessão de gerações, possibilitando projeções para o futuro ou resgates de elementos do passado. Passa-se então a considerar a contribuição específica de uma teoria da prática e as implicações metodológicas de uma análise centrada em “modos de vida”, arraigados numa situação de classe. Finalmente, comenta-se o olhar reflexivo – um elemento fundamental do processo dialógico que permite a escuta do outro em qualquer situação de intervenção.
Propõe-se com essa abordagem descolonizar o olhar do técnico, propiciando uma interação dialógica capaz de reforçar, antes de reprimir, recursos tradicionais na situação em que se pretende intervir.
Palavras-chave: Família; Parentesco; Ciclo Familiar;
Intervenção; Metodologia de pesquisa; Modo de vida.
Claudia Fonseca
Professora Doutora do Programa Pós Graduação em Antropologia
Social-UFRGS
E-mail: claudiaf2@uol.com.br
Concepções de família e práticas de intervenção: uma contribuição antropológica
Family conceptions and practices of intervention: an anthropological contribution
50 Saúde e Sociedade v.14, n.2, p.50-59, maio-ago 2005
Abstract
To speak of the famliy as focus of intervention not only demands a probing discussion about what constitutes a family and how this social group may or may