familia
A discussão foi acalorada: Mauss expôs claramente seus pontos de divergência em relação a seu colega suíço. Primeiramente, ele o criticou por "ter feito, não psicologia da criança em geral, mas psicologia da criança mais civilizada" e aconselhou-o a "fazer observações rigorosas e extensas, por exemplo, na África do Norte, antes de tirar qualquer conclusão mais geral".
A criança marroquina [precisa Mauss] é habilidosa e trabalha bem mais cedo do que nossas crianças. Sobre certos pontos, portanto, ela raciocina antes e mais rápido e de outro modo - manualmente do que as crianças de nossas boas famílias burguesas9.
A segunda divergência foi de ordem metodológica:
Os durkheimianos em geral, e eu inclusive, desenvolvemos nossas pesquisas sobre elementos da razão tomados separadamente, categoria por categoria. O senhor Piaget crê poder abraçar o sistema inteiro da experiência em geral; é por isso que nossos resultados são necessariamente diferentes10.
Enfim, uma terceira e última reserva, "do ponto de vista moral": "A distância entre os 'primitivos' e nós é menor do que crê o senhor Piaget. Ele faz da noção de reciprocidade um privilégio do indivíduo saído da infância, ou da sociedade já civilizada"11. E, em resposta a Piaget, Mauss concluiu: "Em suma, o senhor parte do individual, e nós do social, mas é o mesmo objeto que observamos pelos lados opostos do binóculos"12. A perspectiva do sociólogo é, ao mesmo tempo, relativista e evolucionista: "O pensamento humano passou de uma representação simbólica e empírica