Falando da Sociedade
FALANDODA
SOCIEDADE
ENSAIOS SOBRE AS DIFERENTES MANEIRAS
DE REPRESENTAR O SOCIAL
Tradução:
Maria Luiza X. de A. Borges
Consultoria técnica:
Karina Kuschnir
IFCS/UFRJ
Rio de Janeiro
Falando_da_sociedade.indd 3
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Prefácio
Este nunca foi um projeto de pesquisa convencional. As ideias nasceram de minhas leituras habituais, aleatórias e casuais, de anos de ensino e do simples fato de viver como uma pessoa de interesses bastante ecléticos.
Sempre fui um frequentador de teatros e cinemas, e um incansável leitor de ficção. Sempre pensei que estava aprendendo coisas interessantes sobre a sociedade quando fazia isso, aplicando uma regra que formulei cedo em minha vida: “Se é divertido, deve valer a pena.” Assim, já estava de posse de um bom estoque de exemplos sobre os quais pensar. Tinha visto a peça de Shaw, A profissão da sra. Warren, e gostado de sua dissecação do “problema social” da prostituição, por isso tinha ela na cabeça quando comecei a procurar exemplos.
Havia lido Dickens e Jane Austen, e os considerava casos de como os romancistas apresentam uma análise social.
Em 1970, como parte de minha preparação para trabalhar na sociologia das artes, aprendi a fotografar, tomando aulas no San Francisco Art Institute e envolvendo-me no mundo fotográfico ali e em Chicago. Fotógrafos documentais partilharam comigo sua preocupação sobre a maneira de apresentar as análises sociais que queriam fazer, assim como os alunos que logo vim a ter, e comecei a ver como seus problemas se pareciam com os enfrentados pelos cientistas sociais
(inclusive eu) para expressar aquilo que tinham a dizer.
Nunca fui bom na leitura da bibliografia oficial de disciplinas e campos formalmente traçados, e jamais pensei que as ciências sociais tinham o monopólio do conhecimento sobre o que se passa na sociedade. Encontrei tantas boas ideias na ficção, no teatro, cinema e fotografia como no que “se esperava” que eu lesse. E