Expansão social
“Durante a construção de sua casa em Poço Fundo – sítio da família do Tom Jobim, a duas horas do Rio de Janeiro, entre as cidades de Petrópolis e Teresópolis, Tom Jobim quis alterar o projeto, para que o ” pé direito” do piso térreo pudesse ser mais alto. Um problema, pois o arquiteto e projetista teve que refazer os cálculos e o projeto. Com isso a obra atrasou e a casa não ficou pronta no mês de fevereiro, antes do início das chuvas de março. Jobim acompanhava no local, todos quase todos os dias, passo a passo da construção, muitas vezes interrompida pelas chuvas de março.
Foi nesse cenário do som das águas, dos problemas, da espera, da angústia repetitiva, que segundo o próprio Tom foi anotando em um ” papel de pão” ( um papel comum que embrulhava os pães comprados nas padarias antes dos atuais saquinhos), rabiscando-o, re-escrevendo, procurando sons, ritmo, harmonia e palavras. Assim nasce águas de março.
Segundo Tom Jobim, é uma obra simples e singela, mas é muito complexo pela variação harmônica para poucas notas, pelo ritmo contínuo da chuva, pela letra que descreve o movimento das águas morro abaixo. A enxurrada que leva o pau e a pedra. O pouco sol que brilhando vidro molhado, a noite que chega sem a chuva ir embora. A conversa a beira do rio, a pescaria, a espera, em meio ás imagens das árvores, do toco, do nó da madeira. O canto do pássaro Matita-Perê, do vento, do tamanho da ribanceira. As vigas da casa, a imagem do vão, a espera da festa cumeeira ( quando se termina o telhado, se festeja com um barril de chope). Tudo pelo projeto da casa, da promessa da vida no coração.” (Educação em Arte- Música- volume 1 )Ao ler a letra, se possível leia em voz alta, você notará a cadência e a sonoridade que o texto nos causa. Tom Jobim usou sua experiência para fazer arte, a música e sua poesia.