Exerc cios de produ o de texto
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Exercício
Pau na canalha Joaquim Ferreira dos Santos (O GLOBO, 03/08/2009)
Há quem inveje o estilo literário do suicida em sua carta de despedida, aquele texto prenhe de sinceridade e emoção. O verdadeiro ponto final. Está tudo acabado, não há mais necessidade de posar e se fazer de herói. Enquanto o gás toma conta do ambiente, enquanto o guaraná com formicida faz o efeito libertário, o sujeito senta-se à mesa, pega a caneta e põe os bofes para fora. Acusa, confessa, pede perdão e acerta as contas. Nem aí para as firulas gramaticais. Acima de tudo abre o jogo com o nada a perder dos desesperados. Um belo texto, mas dele sempre pinga uma gota de melancolia. Eu invejo o estilo literário da carta do leitor na página 6 do GLOBO. Ele é um suicida literário, sempre prestes a cravar o peito de exclamações virulentas para que a autoridade inescrupulosa, chafurdando na lama da corrupção, tenha vergonha na cara e perceba o despropósito a que chegamos. O jornal é a grande praça pública moderna, o local para se pôr fogo às vestes e gritar que foi ele, pega esse ladrão contumaz. Será que esse energúmeno engravatado, continua o leitor, não percebe que a cidade, essa pocilga, é um valhacouto de bandidos da pior espécie?! Eu invejo acima de tudo a boca cheia dessas cartas, todas prenhes do que os antigos chamavam de “sem papas na língua”. Num mundo dominado pelos corretores de textos, que aproveitam a deixa e corrigem também as emoções, o verbo quente do leitor assíduo fica naquela faixa da eloquência que os editores pedem aos jornalistas profissionais para que seja evitada. Eu acho que é justamente o que falta, o pau na canalha, o ovo podre da semântica, nas páginas dos jornais. O leitor não tem medo de processo,