estudos dos animais
A estrutura do livro é cíclica e até certo ponto independente. Os capítulos podem ser lidos independentemente ou fora de ordem sem grande prejuízo, pois são todos unidades fechadas que fazem parte de um todo. O próprio Graciliano não os concebeu a princípio como interdependentes, o que reforça este caráter. Como uma exceção a essa independência, defino o primeiro capítulo, o capítulo inverno (metade do livro) e o capítulo final, que juntos marcam o ciclo seca-chuva-seca. Juntos eles nos dão a impressão que isso aconteceu antes e que se repetirá após o fim da história contada em Vidas Secas.
A descrição se sobrepõe à narração e esta ao diálogo. Os personagens pouco falam e, quando falam, geralmente têm seu discurso diluído no do narrador, num discurso indireto livre. Comunicam-se ainda menos. Não são raras as vezes em que há fala mas a comunicação é nula. Isso acontece quando o Soldado Amarelo diz a Fabiano ordens que ele não entende (causando a prisão do mesmo por motivos que o próprio não compreende), quando Vitória diz a um dos seus filhos que "inferno" é uma palavra feia e ele ganha mais admiração pelo lexema por ser uma palavra bonita e ao mesmo tempo ruim. Compreender um ao outro é o que parece ser de menor importância para eles, pois tudo que lhes é necessário é uma questão de sobrevivência acima de convivência.
A obra é de forte inspiração naturalista. Tudo em Vidas Secas parece destruir as definições do que é homem e do que é animal. Fabiano considera-se um bicho e diz em voz alta, com orgulho, que o é. Um bicho porque é capaz de aguentar a força da natureza. Baleia, a cachorra, por outro lado, tem muito mais humanidade que todos os seres humanos da obra. Ela sonha, tem sentimentos, mostra amor e companheirismo apesar de qualquer dificuldade. Se há alguém que muito nos inspira sentimentos, esta é Baleia. Os outros membros da família, em toda a sua humanidade, são hostis e utilitaristas, pois tudo a eles se