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O TEMPO DOS FÓSSEIS
Maria Helena Henriques
Departamento de Ciências da Terra e Centro de Geociências da Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade de Coimbra
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Resumo
O fóssil, como representante de tempo geológico, constitui um testemunho incontornável na calendarização do tempo da Terra. Todo o fóssil representa tempo geológico, mas cada fóssil representa um determinado tempo geológico. Para além dos fósseis estratigráficos e dos chamados “fósseis vivos”, o registo fóssil integra outros tipos de fósseis, que representam tempo geologicamente anterior ao tempo atribuído aos sedimentos que os contêm – “os fósseis reelaborados”. O seu reconhecimento é do maior interesse biostratigráfico e biocronológico, e assenta num conjunto de critérios, em que as relações entre fóssil e rochas encaixantes não são irrelevantes. Esta interdependência deve ser tida em conta aquando da concepção e implementação de intervenções educativas centradas na dimensão temporal dos fósseis, sobretudo naquelas que envolvem trabalho de campo que contemple a colecta de fósseis.

1. Introdução
O tempo materializado em fósseis constitui um problema. Os fósseis não são todos do mesmo tempo e não representam, todos, o mesmo tempo. Existem fósseis em estratos que não são contemporâneos desses estratos. Existem fósseis em estratos cujos seres que lhes deram origem nunca viveram naquele lugar. Existem fósseis que persistem ao longo de sucessivos estratos de um perfil estratigráfico, constituindo essa presença critério para o estabelecimento de limites de tempo geológico, de acordo com preceitos próprios e sujeito a mecanismos específicos de validação. Existem outros, nas mesmas circunstâncias, que não o permitem.
Existem fósseis que, só quando ocorrem associados a outros fósseis, possibilitam a delimitação de intervalos de tempo. Existem fósseis que se referem a espécies cujos representantes ocuparam, em simultâneo e num dado tempo, locais distintos do