Estudante
Antropologia e
Sexualidade
Consensos e Conflitos Teóricos em
Perspectiva Histórica
In A Sexologia, Perspectiva Multidisciplinar, org. Lígia Fonseca, C.
Soares e Júlio Machado Vaz, Coimbra: Quarteto, vol II, pp 53-72
Miguel Vale de Almeida
MIGUELVALEDEALMEIDA.NET
2003
ANTROPOLOGIA E SEXUALIDADE
Consensos e Conflitos Teóricos em Perspectiva Histórica
Miguel Vale de Almeida
A maior parte dos antropólogos sociais e culturais concordarão com a dúvida de que a sexualidade possa, em si mesma, constituir um objecto de estudo1. “Em si mesma” significa isolada de instituições e práticas sobre as quais a sexualidade “fala” e que são “faladas” através do idioma da sexualidade. Assim, e para lá do postulado central da antropologia que leva à abordagem dos discursos e práticas humanas em sociedade como formas de significação cultural – donde, variável e relativa consoante as formações sociais – a disciplina tem abordado o que se pode denominar como “sexualidade” no decurso de investigações sobre instituições e práticas outras, a saber, o parentesco, a família e, mais tarde, o género.
Mais recentemente, a sexualidade conquistou alguma autonomia como campo de inquérito devido à definição do sexual como facto social atravessado por tensões e conflitos identitários, sobretudo nas sociedades chamadas modernas e ocidentais (ainda que a globalização permita o atenuar dessas supostas fronteiras tipológicas). Quer as identidades de género, quer as identidades com base na orientação sexual têm vindo a ser abordadas pela antropologia contemporânea como arenas de identidade e de poder, correlacionadas e correlacionáveis com outros níveis de identificação, diferenciação e desigualdade, como a “raça”/etnicidade, a classe social, a idade ou o estatuto. Esta tendência vai no sentido de realçar a permeabilidade destes campos uns pelos outros. Assim, é comum fazer análises das metáforas e analogias sexuais nos discursos do nacionalismo ou do