Estetica
O QUE É A ESTÉTICA
Mikel Dufrenne
Não é fácil definir a estética e provavelmente encontraremos tantas definições quantos são os estudiosos da matéria. Não obstante, proponhamos uma definição provisória, numa primeira aproximação: a estética é uma reflexão sobre as artes, assim como a epistemologia é uma reflexão sobre as ciências, e a filosofia do direito, uma reflexão sobre o direito. Mas esta primeira definição já pode ser contestada, pois omite que o objeto da estética pode ser estendido das obras do homem às coisas naturais e sabe-se que Kant atribuía mais importância ao fenômeno do “belo na natureza” do que ao belo na arte: interrogava-se sobre o que podia significar uma beleza como a das profundezas marinhas, que não é produzida pelo homem nem lhe parece ser destinada. Esta primeira observação conduz-nos a uma Segunda, pois acabamos de recorrer a um termo hoje em dia evitado cautelosamente: a beleza. Sem dúvida esse termo deve ser manejado com precaução; sua desgraça lhe sobrevém de uma interpretação infeliz: acreditamo-lo cúmplice do academicismo, suspeitamo-lo de impor à arte modelos ou normas canônicas e de condenar Klee em nome de
Raffaello, Messiaen em nome de Bach, Artaud em nome de Racine, quando evidentemente há beleza em todas as épocas e todos os estilos. A beleza não se mede por um padrão imutável qualquer, e o único critério que o gosto possui para julgá-la é o prazer que temos com o objeto – prazer que, tão logo o gosto é exercido, é bem menos subjetivo que muitas vezes cremos. De onde vemos que, no princípio mesmo da estética, situa-se uma reflexão sobre o belo, sobre esse julgamento valorativo particular que denomina julgamento de gosto. Esta reflexão importa também para circunscrever o campo da estética; considera os objetos estéticos, artificiais ou naturais, na medida em que solicitam de nós a atitude estética e o julgamento estético, ou seja, enquanto pretendem despertar em nós um certo prazer e por isso