Estamira

Resenha do filme Estamira

O filme Estamira é um documentário do diretor Marcos Prado que conta a história de uma mulher – Estamira, de 63 anos – que vive no Aterro Sanitário Jardim Gramacho, e que, tendo sofrido demais ao longo de toda a sua vida, enlouqueceu. Mesmo em sua loucura, Estamira é perspicaz e faz observações que, apesar do tom surreal, são extremamente pertinentes, nos sentidos filosófico, psicológico, poético e sociológico. Todo esse documentário se relaciona profundamente, também, com as idéias de Foucault sobre temas como a loucura, a marginalização, relações de poder e controle e como o indivíduo lida com todos esses diferentes aspectos da sociedade. Isso porque Estamira, em sua loucura, faz críticas à sociedade e a ideais e modelos sociais que essa sociedade tem, não tanto de uma perspectiva distante, pensada em um ambiente acadêmico, mas sim por uma perspectiva marcadamente pessoal, pautada nas experiências vividas por Estamira, e fruto de um sentimento de profunda indignação com tudo o que ela foi obrigada a passar. Entre os aspectos mais marcantes do discurso de Estamira estão sua revolta contra Deus – qual, exatamente, não se sabe: pode facilmente ser o cristão, pode também ser outro, mas o provável é que seja contra o que qualquer deus absoluto e onipresente representa, independente do credo - e contra o tipo de sociedade em que há desigualdade e abuso. Ainda no âmbito da opinião da personagem quanto à religião, Estamira, paradoxalmente, parece, ao mesmo tempo em que nega a existência de um deus, colocar-se como um ser divino e perfeito, enviado à Terra para transmitir ensinamentos. Ela fala, nesse ponto, de forças cósmicas, planetas e suas vozes, do ‘grande cometa’, dos ‘controles remotos’ superior e artificial, e de um ‘Trocadilo’, que, de acordo com ela, é o ‘esperto ao contrário’.
Estamira também combate qualquer tipo de poder, e prega um comunismo, não necessariamente como modelo social idealizado por outros pensadores, mas