Estamira, personagem principal que dá nome ao filme, retrata a vida de uma senhora com 62 anos que viveu e trabalhou durante vinte anos no aterro sanitário Jardim Gramacho no Rio de Janeiro (Duque de Caxias, especificamente). Dirigido por Marcos Prado, o documentário dá voz ao sofrimento psíquico vivido por Estamira que ainda jovem vivencia uma série de situações que a tornara cética ao acreditar em divindade,foi abandonada pelo marido e estuprada duas vezes. Ela apresenta um quadro de alucinações constantes onde acredita ser reveladora das verdade e aponta os grandes males do humano ao afirmar a inversão de sentido dos valores sociais. Durante todo o filme ela se coloca fielmente contra Deus e denuncia a alienação dos seres humanos pela religião e pelos remédios. Ao falar sobre o aterro sanitário demonstra prazer em realizar o trabalho de “catação” e afirma que o verdadeiro lixo é a sociedade que vivemos. Estamira que é portadora de doença mental realiza acompanhamento no Centro de Assistência Psicossocial da região, mas afirma: Os medicamentos receitados pelo médico mais atrapalham do que ajudam. É evidente o “grito de socorro” do doente mental que Prado faz questão de anunciar, o descaso da saúde pública brasileira com relação ao portador de sofrimento psíquico. Apesar de todos os benefícios que a Reforma Psiquiátrica trouxe, essa parcela da sociedade ainda encontra-se negligenciada pelo poder público. A falta de assistência e estruturas adequadas de atenção ao doente mental tem permitido que os tratamentos sejam realizados de maneira imprecisa e superficial, buscando auxílio medicamentoso para todos tipos de transtornos objetivando um resultado rápido. Esse tipo de tratamento “dopador” e “viciante” que o doente é submetido reduz a saúde mental em psicopatologia, apenas. Cada sujeito é singular, único, e deve trabalhar esse doente sem se apegar apenas ao quadro sintomático, estimulando-o a participar de outros serviços que contribuam positivamente