Estado e Violência simbólica
1. Tempo
Estado,
Violência Simbólica e
Metaforização da
Cidadania
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Sonia Regina de Mendonça
Considerações preliminares
Assumir a empreitada de refletir acerca do Estado, em qualquer de seus aspectos ou dimensões, sempre implica no risco de expor-se a resgatar um pensamento do Estado, na medida em que a ele se aplicam categorias de pensamento via de regra por ele mesmo produzidas e/ou sancionadas. Esta afirmação, ainda que aparentemente hermética e abstrata, adquire sentido se admitirmos que uma das maiores “tarefas” do
Estado consiste, justamente, em produzir e impor, sobretudo através da instituição escolar, certas noções e categorias que utilizamos espontaneamente em nosso cotidiano, quando nos referimos às coisas do mundo, inclusive, ao próprio objeto aqui tomado para reflexão. No entanto, para existir perspectivas alternativas de pensar um Estado que se pensa através dos que o pensam é fundamental questionar os pressupostos e préconstruções que se inscrevem tanto na realidade recortada para análise, quanto no pensamento dos que a analisam. Isto porque, em matéria de Estado, costuma-se reduzir a um questionamento meramente político, inspirado por prejulgamentos ou juízos de valor, aquilo que deve ser um questionamento epistemológico. Dizemos isto porque o
“pensamento de Estado” está tão intimamente entranhado em nosso próprio pensamento
- determinando, muitas vezes sem que o percebamos, suas balizas e/ou limites possíveis
- que em várias situações o que supomos ser puro fruto da produção intelectiva, individual ou coletiva, não passa, na maioria dos casos, de efeitos das escolhas do
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Professora do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense; doutora em História pela
Universidade de São Paulo.
Tempo, Rio de Janeiro,vol. 1, 1996, p. 94-125.
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Estado, por nós introjetadas e, por isso, mesmo já incrustradas no domínio do inconsciente. Se tais escolhas são tão completamente impostas à