Estado e sociedade
Por motivos que não cabe aqui explicar, a urbanização e, sobretudo, a industrialização, convivem mal com a apropriação "privada" das instituições estatais; têm uma coexistência tumultuada com a cidadania restrita e regulada; fazem uma interface difícil com a inexistência de regras claras e consensuais no espaço público; suportam mal a imagem do colonizado, agora povo, como ser inferior, sub-raça de uma hierarquia estabelecida "cientificamente", como no século passado por Gabineau e seus discípulos. Concomitante aos fenômenos da urbanização e da industrialização surge, em novos moldes, a questão da nação, da nacionalidade, da especificidade de nossas formações, da nossa própria identidade.
Assim, entre fins do século passado e meados deste (no caso do Brasil, a partir de 1930), sobre a esteira dos fenômenos cidade/indústria, o Estado desloca-se, gradativamente, do espaço da coisificação para o da expressão relacional, de uma propriedade para uma relação de forças entre atores sociais. Não em sua totalidade, não de forma abrupta, mas como tendência, como fato portador de futuro, que se irá configurar plenamente, em toda sua força e vigor, após a Segunda Guerra Mundial.
Agora, Estado e nação começam a conhecer uma imbricação antes desconhecida. A sociedade ganha configurações antes ilegíveis. Desponta a possibilidade de uma democracia de massas, porque as massas tornam-se classes sociais, sujeitos, no plural, que se posicionam diferentemente, que se exprimem, que constroem suas próprias identidades. O espaço público começa a perder seu caráter privado.
As duas configurações primeiras do Estado em nosso continente, como concepção subjetivista de domínio, na expressão de Bobbio (1980), e como "propriedade da