Epopéia
A epopeia de Gilgamesh é certamente a peça mais célebre de toda a tradição literária babilônica. Em linguagem elevada e de grande fôlego, conta a heróica lenda de Gilgamesh, rei (em aproximadamente 2600a.e.c.) da cidade meridional de Uruk, que, com seu amigo Enkidu, selvagem aculturado, buscou e conquistou a glória. Depois, diante do cadáver do companheiro, compreende repentinamente que nada tem valor se a morte deve um dia arrancar-nos tudo.
Então parte novamente, febril e corajoso, à custa de esforços sobre-humanos, em busca do meio de conservar a vida para sempre. Perto do fim, porém, fracassa...
A edição "original" mais conhecida e completa (cerca de dois terços) dessa obra-prima é a que foi encontrada na biblioteca do rei assírio Assurbanipal (668-627 a.e.c.), em doze tabuletas que continham de 200 a 300 versos cada uma. Esse rei tinha mandado reunir, em seu palácio em Nínive, cuidadosamente recopiada em cerca de 5.000 "tabuletas" (diríamos "volumes"), a maior parte da ampla produção literária do país: tudo aquilo que, em seu tempo, acreditava-se digno de ser conservado e relido. Foi essa a biblioteca que, em 1852, e depois em 1872, Austen Henry Layard e Hormuzd Rassam descobriram em cerca de 25.000 pedaços. Ela foi em seguida transportada para o Museu Britânico de Londres. Trata-se, para os assiriólogos, de uma das fontes mais ricas e insubstituíveis de nosso conhecimento sobre o pensamento desse antigo país.
Um século de descobertas entre os inesgotáveis tesouros das tabuletas cuneiformes ao menos nos permitiu ver as coisas de maneira mais clara. Sabemos atualmente que se A epopeia de GIlgamesh tem por trás de si uma longuíssima história literária, que remonta a uma época muito anterior à dos tempos bíblicos - pelo menos a 2000 a.e.c. -, o relato do Dilúvio a princípio não fazia parte dela; foi inserido mais tarde, por volta de 1300 a.e.c., retomado de outra peça literária, na qual tinha um lugar orgânico: o Poema do Supersábio