A epopeia
1 - Gilgamesh
Os homens e mulheres da cidade de Uruk, na antiga Mesopotâmia, local banhado por dois rios caudalosos que diminuíam a fértil e formosa terra onde se encontrava o Paraíso Terrestre, admiravam o seu jovem rei Gilgamesh; mas também temiam, pois, em ocasiões, governava com soberba e arrogância. Passava o tempo e os cidadãos de Uruk estavam cada dia mais tristes porque notavam que Gilgamesh, o rei de formas perfeitas - já que possuía três partes de deus e uma de humano 1 - ditava continuamente leis e sentenças injustas, distantes da misericórdia e da compaixão exigidas a um governante para com seus súditos. Era tanta a crueldade de Gilgamesh que os deuses escutaram as súplicas dos homens e das mulheres de Uruk e se retiraram a suas sagradas moradas para meditar... Em silêncio, os deuses refletiram e maquinaram dia e noite... Até que, por fim, decidiram que Aruru2, a deusa-mãe que tinha criado Gilgamesh, encontrara também a forma de ajudar os humanos. Assim, pois, Aruru pôs mãos à obra e, tal qual sábio e aplicado oleiro, preparou a lama e modelou uma figura humana. Logo, sem desperdiçar nem um momento, a criativa deusa soprou a argila e no mesmo instante a figura que acabara de criar tomou vida e movimento. Aruru, satisfeita com sua obra, retirou-se para descansar; mas antes impôs suas divinas mãos sobre a cabeça, coberta de encaracolados e longos cabelos, daquele novo homem que tinha a sua frente e com voz de trovão, lhe falou: “Te chamarás Enkidu... Serás um grande guerreiro e um herói de valor... e enfrentarás o jovem rei Gilgamesh para obrigá-lo a tratar o seu povo com respeito”.
1
Gilgamesh era filho da deusa Ninsu, uma deusa obscura dentro do panteão mesopotâmico. Sabe-se que tal deusa possuía um templo-palácio na cidade de Uruk. Era esposa do deus-rei Lugulbanda, sendo conhecida também por sua sabedoria, passando, assim, por conselheira de Gilgamesh. 2 Deusa babilônica da criação. Moldou Enkidu a imagem de Anu, o rei dos