Epigrafia
PEDRAS QUE FALAM
JOSÉ D’ENCARNAÇÃO
COIMBRA
2005
APRESENTAÇÃO
Durante muito tempo, o monumento epigráfico apenas se considerou relevante fonte histórica no âmbito da História Antiga. Compreende-se: as «pedras com letras» eram abundantes; apareciam um pouco por toda a parte; detinham o carácter ímpar de serem originais, chegadas a nós tal como o lapicida as concebera; abrangiam, por fim, todos os domínios históricos: religião, culto dos mortos, onomástica, legislação, monumentos importantes, personagens ilustres, vida económica e o quotidiano, até, por serem cada vez mais numerosos os grafitos nelas descobertos.
Para um período como o da História Romana ou Grega, para que apenas a Arqueologia podia trazer informações concretas e se tinha a consciência clara de que a literatura era «fonte» mas de um valor decerto relativo, erudito, elitista (Quem lia? Quem escrevia? Quem nos garantia a fidelidade das versões chegadas até nós?...) – a Epigrafia representava, assim, manancial insubstituível. Que se saberia dos Lusitanos ou da organização romana na Península Ibérica sem os documentos epigráficos?
Depois, desde meados do século passado sobretudo, a «pedra com letras» deixou de ser mera pedra com um texto a decifrar. Decifrar era aliciante, sem dúvida; mas, mais do que isso, importava contextualizar: porque se escrevera aquilo ali, naquele tipo de suporte, naquele tipo de monumento, com aquelas palavras e não outras. De «pedras com letras» passámos ao domínio das «pedras que falam»…
A disciplina de Epigrafia Latina foi, pois, desde há muito, considerada essencial num currículo de Arqueologia ou História da Arte, primeiro como semestral, depois como anual, considerando-se que os seus ensinamentos tanto podem servir para os tempos romanos como para a actualidade.
Constitui este livrinho o primeiro ensaio nesse sentido. Não muito longo no que à epigrafia em geral diz respeito; mais