Ensaio Sobre a Segueira
O Ensaio sobre a Cegueira revela um importante diálogo entre literatura de ficção e teorias da percepção, visto que proporciona um debate acerca de como se manifesta as sensações através de cada sentido e seus efeitos de significação. A esses sentidos – visão, audição, olfato, tato e paladar. O Ensaio mostra, em um primeiro momento, um mundo com fortes necessidades visuais, uma vez que, pelo modo como é referenciado, só se é possível viver com esse gradiente sensorial, já que o espaço descrito na obra se trata de um grande centro urbano, com diversas e labirínticas ruas e construções, além do trânsito agitado, tanto de pessoas circulando pelos espaços públicos quanto pelos mais variados tipos de veículos, formando um caos urbano dentro do qual, sem a visão, não seria possível sobreviver. A epidêmica cegueira surge como uma ruptura de um mundo percebido (porém, não percebido verdadeiramente) Pela a visão. A partir de então, as personagens necessitam sobreviver apenas com a audição, o olfato, o tato e o paladar. E sendo aquele mundo estabelecido para se viver principalmente pela percepção visual, e naturalmente, ele teria de ser transformado, como de fato ocorre, a fim de que as personagens possam se adaptar à nova forma de ser-no-mundo. Com a cegueira, além da audição e do olfato, as personagens passam a utilizar acentuadamente o tato para a localização espacial e para o reconhecimento de outros sujeitos.
Nossa total consciência da realidade
Exterior é primariamente um produto da
Sensação e da percepção.”
Schiffman