Ensaio sobre Bandeira
Este pequeno ensaio interpretativo tem como objetivo, estabelecer uma relação entre os poemas “Consoada” (Opus 10) e “Desesperança” (A Cinza das Horas), ambos escritos por Manuel Bandeira.
Antes de começarmos, é conveniente comentar alguns fatos da vida de Bandeira, que tem importante relação com os poemas aqui analisados e interpretados.
Na autobiografia de bandeira, o “Itinerário de Pasárgada” apesar de, inesperadamente, pouco citada pelo autor, reconhecemos que ele foi diagnosticado, aos 18 anos de idade, com tuberculose. Devido à doença, que na época era considerada “a doença que não perdoa” o jovem bandeira teve de abandonar o sonho de ser arquiteto, e passou a viver esperando a morte iminente. Foi nessa época, quando o rumo de sua vida foi alterado completamente, que bandeira redirecionou seu foco à poesia, apesar de sempre ter tido uma inclinação para a mesma. Talvez, por isso a tuberculose ganhe um grande espaço em sua obra; grande parte dela é dedicada à doença, e a morte, inclusive os dois poemas que vamos interpretar a seguir.
DESESPERANÇA
Esta manhã tem a tristeza de um crepúsculo.
Como dói um pesar em cada pensamento!
Ah, que penosa lassidão em cada músculo...
O silêncio é tão largo, é tão longo, é tão lento
Que dá medo... O ar, parado, incomoda, angustia...
Dir-se-ia que anda no ar um mau pressentimento.
Assim deverá ser a natureza um dia,
Quando a vida acabar e, astro apagado,
Rodar sobre si mesma estéril e vazia.
O demônio sutil das nevroses enterraA sua agulha de aço em meu crânio doído.
Ouço a morte chamar-me e esse apelo me aterra...
Minha respiração se faz como um gemido.
Já não entendo a vida, e se mais a aprofundo,
Mais a descompreendo e não lhe acho sentido.
Por onde alongue o meu olhar de moribundo,
Tudo a meus olhos toma um doloroso aspeto:
E erro assim repelido e estrangeiro no mundo.
Vejo nele a feição fria de um desafeto.
Temo a monotonia e apreendo a