Elementos para uma crítica vulgar
A aversão pelo fácil
O autor inicia seu texto afirmando que “o gosto 'puro' e a estética que lhe serve de teoria encontram sua origem na rejeição do gosto 'impuro' e da aisthesis (compreensão pelos sentidos), forma simples e primitiva do prazer sensível reduzido a um prazer dos sentidos”. Com isso, evitando ser estigmatizada, toda a linguagem estética está confinada em uma rejeição de princípio do fácil, entendido pela ética e estética burguesa. Essa rejeição ao fácil está ligada ao sentido de simples, portanto, sem profundidade e 'barato', com uma decifração cômoda e pouco dispendiosa do ponto de vista cultural, sendo visto como 'infantil' e primitivo'. De acordo com as palavras utilizadas para denunciá-las , 'fácil' ou 'ligeiro', as obras vulgares não são somente uma espécie de insulto ao público 'difícil'; tais obras suscitam o mal-estar e a aversão ao adotarem métodos de sedução, habitualmente, denunciados como baixos e degradantes, que incutem no espectador o sentimento de ser tratado como qualquer um. Bourdieu usa como apoio dois filósofos: Schopenhauer e Kant; mais o segundo do que o primeiro. Estes dois afirmam que no ethos da fração da classe dominante, “o lindo que reduz “o puro sujeito cognoscente” (…) a um “sujeito voluntário, submetido a todas as necessidades e servidões”, exerce uma verdadeira violência sobre o espectador”, impondo uma participação real completamente oposta ao distanciamento e ao desinteresse do gosto puro. Nada opõe mais radicalmente os espetáculos populares aos espetáculos burgueses que a forma da participação do público. No primeiro, existem assobios, berros, etc.; no segundo, há a distância, a ritualização e aplausos.
O “gosto pela reflexão” e o “gosto pelos sentidos”
O gosto puro rejeita a violência a que se submete o espectador popular, reivindicando o respeito ao distanciamento. Sua expectativa é a de que a obra de arte,