Educação
(Capítulo 1 do livro “A autonomia de professores”, de José Contreras Domingo. São Paulo: Cortez, 2002, pp. 31-51)
José Contreras Domingo
Uma das idéias mais difundidas na atualidade com respeito aos professores e, ao mesmo tempo, uma das mais polêmicas é sua condição de profissional. Seja como expressão de uma aspiração, como descrição das características do ofício de ensinar ou como discussão sobre as peculiaridades ou limitações com que tal condição se dá nos docentes, o tema do profissionalismo parece bastante instalado no dis¬curso teórico, bem como nas expressões dos próprios docentes sobre seu trabalho. Uma das razões que torna esse assunto problemático é que a palavra "profissional", e suas derivações, embora em princípio pareçam apenas referir-se às características e qualidades da prática docente, não são sequer expressões neutras. Escondem em seu bojo opções e visões do mundo, abrigando imagens que normalmente são vividas como positivas e desejáveis e que é necessário desvelar se qui-sermos fazer uma análise que vá além das primeiras impressões. O tema do profissionalismo — como todos os temas em educação — está longe de ser ingênuo ou desprovido de interesses e agendas mais ou menos escusas.
O problema que me interessa explorar neste trabalho é, concretamente, o a autonomia profissional enquanto qualidade do ofício do¬cente. Porém, uma das características do mesmo é que ele está afetado ideológica e praticamente pela discussão acerca da presença ou da conveniência de determinadas qualidades, entre elas a da própria autonomia e do que por ela se possa entender.
O ensino, enquanto um ofício, não pode ser definido só de modo descritivo, ou seja, pelo que encontramos na prática real dos professo¬res em sala de aula, já que a docência — novamente, como tudo em educação — define-se também por suas aspirações e não só por sua materialidade. Tampouco, porém, fica bem identificá-lo como um