eDUCAÇÃO
Faculdade de Letras
Departamento de Letras Vernáculas
Setor de Literatura Portuguesa
Disciplina: Cultura Portuguesa
Professora: Mônica Fagundes
Pedro e Inês
Nuno Júdice (1949 - )
Em que pensar, agora, senão em ti? Tu, que me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a manhã da minha noite. É verdade que te podia dizer: «Como é mais fácil deixar que as coisas não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos apenas dentro de nós próprios?» Mas ensinaste-me a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou, até sermos um apenas no amor que nos une, contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor: ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo esse que mal corria quando por ele passámos, subindo a margem em que descobri o sentido de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor, de chegar antes de ti para te ver chegar: com a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu: a primavera luminosa da minha expectativa, a mais certa certeza de que gosto de ti, como gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.
Fiama Hasse Pais Brandão (1938-2007)
Inês de Manto
Teceram-lhe o manto para ser de morta assim como o pranto se tece na roca Assim como o trono e como o espaldar foi igual o modo de a chorar Só a morte trouxe todo o veludo no corte da roupa no cinto justo Também com o choro lhe deram um estrado um firmal de ouro o corpo exumado O vestido dado como a choravam era de brocado não era escarlata Também de pranto a vestiram toda era como um manto mais fino que roupa
3. Miguel Torga (1907-1995)
Inês de Castro
Antes do fim do mundo, despertar,
Sem D.Pedro sentir,
E dizer às donzelas que o luar
É o aceno do amado que há-de vir...
E mostrar-lhes que o amor contrariado
Triunfa até da própria