educação do campo
Hoje, quando pensamos no ato da leitura, logo o associamos à imagem de uma pessoa em silêncio, absorta, diante da página escrita. Mas é preciso reconhecer que esse tipo de leitura atualmente hegemônica é apenas um dentre as diversas formas de apropriação do texto escrito que se configuraram ao longo da história do mundo ocidental até os tempos atuais. O que constatamos, ao ler as pesquisas sobre o tema, é que o ato de ler é variável, não apresenta um valor único e absoluto, imutável ao longo do tempo.
Se, atualmente, a autoridade do texto escrito se sobrepõe, em grande medida, a todo saber oriundo de uma tradição oral compartilhada e se, ainda, é atribuído atualmente ao leitor o lugar de protagonista no ato da leitura; devemos lembrar que, durante muito tempo, a expressão oral era reconhecida como a única forma de alcançar o verdadeiro conhecimento e o leitor era encarado como um ser passivo.
Sendo assim, procurarei analisar, neste capítulo, alguns momentos significativos na constituição das práticas de leitura e do perfil do leitor no mundo ocidental, tomando como referência as pesquisas que investigam a historicidade do livro e das práticas de leitura (CAVALLO; CHARTIER, 2002a, 2002; FISCHER, 2006; LAJOLO; ZILBERMAN, 2003; MANGUEL, 2006) e trabalhos clássicos de História da educação (CAMBI, 1999; JAEGER, 2001, MANACORDA; MARROU,1990). Não se trata de fazer apenas um relato cronológico sobre o livro e as maneiras de ler que caracterizaram a sociedade ocidental da Antiguidade até os dias atuais, mas procurar focalizar, a partir desses estudos, como se configurou, historicamente, o que denominamos mundo da leitura como um espaço particular na produção de sentido e construção de valores sociais.
3.1 A CONSTRUÇÃO DA LEITURA NO MUNDO OCIDENTAL
Na Grécia Clássica, momento decisivo, segundo Jaeger (2003), na constituição de um ideal de cultura como princípio formativo e processo de construção