Economia moral
Resumo: O artigo faz uma revisão do que certos antropólogos ou cientistas sociais têm escrito sobre a economia como fenômeno cultural, principalmente Weber, Sahlins e Geertz, sobre a economia moral, em particular, E.P. Thompson e sobre o dom, a partir da leitura que Caillé e Godbout fizeram de Mauss. Isto com o intuito de refletir e entender melhor o que pode vir a ser a economia solidária, e os cuidados que devem ser tomados na sua construção.
Introdução A economia solidária é um tema ainda pouco tratado pela antropologia brasileira. No entanto, acostumada a se relacionar com o “outro”, o diferente, que ele seja de outra cultura ou de outra época, a antropologia tem muito a dizer sobre esse tema que lhe é familiar porque lidou com ele em sociedades não ocidentais ou não contemporâneas. Como afirma Goldman (1995: 114), é sabido entre os antropólogos que a investigação intensiva das sociedades ditas primitivas trouxe à luz fenômenos e princípios igualmente detectáveis na sociedade do pesquisador; é o que mostraremos a seguir. Lendo a produção intelectual a respeito do projeto de construção de uma economia solidária no Brasil, chamou a minha atenção a insistência dos autores sobre a necessidade de criar uma nova cultura, o que prefiro interpretar como “novas” práticas culturais de cunho solidário, ou melhor dito como práticas solidárias estranhas às que normalmente são praticadas e pensadas como apropriadas numa economia capitalista. Para tratar desta questão, é importante entender o tipo de relações que cultura e economia tecem e desenvolvem. Com este intuito, propõe-me refletir a seguir sobre algumas noções e conceitos. Em primeiro lugar, vou trazer o que antropólogos ou cientistas sociais têm escrito sobre a economia como fenômeno cultural, em seguida irei analisar o conceito de economia moral para finalmente debruçar-me sobre o dom. Na primeira parte, aproveitarei o