dossiê agricultura familiar
SOCIOLOGIAS
DOSSIÊ
Sociologias, Porto Alegre, ano 5, nº 10, jul/dez 2003, p. 312-347
Agricultura Familiar e o Novo
Mundo Rural1
R.
ANTÔNIO MÁRCIO BUAINAIN*, ADEMAR R. ROMEIRO**, CARLOS GUANZIROLI***
O
debate sobre a questão agrária no Brasil é pródigo em criar falsos dilemas e polêmicas. A questão atual tem sido opor o futuro da agricultura familiar ao que vem sendo caracterizado como ‘novo mundo rural’, como se um excluísse o outro. Os resultados das pesquisas sobre o rurbano brasileiro são ricos e evidenciam a expansão de novas formas de ocupação no meio rural, vinculadas direta ou indiretamente a atividades essencialmente urbanas. Este fenômeno que, no Brasil, ainda é limitado do ponto de vista geográfico, tende, sem dúvida, a crescer. Não se trata, no entanto, de um fenômeno novo. O desenvolvimento do meio urbano deu-se, sempre e em todo lugar, pela apropriação dos espaços rurais. Kautsky, em sua obra clássica, já chamava a atenção para a importância das ocupações não-agrícolas no meio rural, associadas tanto à expansão da indústria rural como do setor de serviços. Tampouco é novo o fato de as ocupações periurbanas serem impulsionadas por atividades urbanas. Isso vale para toda a agricultura que produz insumos e bens finais respondendo à de1 Este trabalho é baseado em grande medida nas pesquisas dos colaboradores consultores do Convênio FAO/INCRA, cujos resultados encontram-se sintetizados em Guanziroli, C. et al (2001).
*Professor do Instituto de Economia da Unicamp.
** Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Chefe Geral da Embrapa Monitoramento por Satélite.
*** Professor do Departamento de Economia da UFF e Consultor da FAO.
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Sociologias, Porto Alegre, ano 5, nº 10, jul/dez 2003, p. 312-347
manda e dinâmica do mundo urbano. Neste sentido, não se trata de negar que essas ‘novas’ atividades vêm ganhando espaço, mas de perguntar se este fato, por si só, é suficiente para negar que o