Donos do poder
Abrindo o livro com a formação do Estado português, nos séculos XIV e XV, Faoro deixa registrado o seu tipo de recuo histórico. A história será um grande baú de memórias, dentre as quais, por meio de alguns conceitos da sociologia e da ciência política de Max Weber principalmente, o autor tentará religar os acontecimentos passados em uma tradição, uma filiação, uma genealogia que os defina. Para montar essa genealogia, Faoro toma como marco inicial as guerras de reconquista e de ordenação do reino de Portugal, juntamente com o projeto de conquista e expansão do seu Império Ultramarino, para elaborar o conceito, fundamental em sua análise, de um Estado patrimonial. Esse Estado, muito precocemente constituído em Portugal a partir da empresa do Príncipe, inviabilizou o desenvolvimento de uma classe feudal independente, pois trouxe para o interior do Estado a direção da economia, desvinculando-a dos arbítrios dos barões proprietários de terras. Dessa ideia, o autor desdobrará a tese de que
Os reis portugueses governaram o reino como a própria casa, não distinguindo o tesouro