Doenças mitocondriais
ARTIGO
Doenças Mitocondriais
Ibrahim E. Nasseh1
Célia H. Tengan2
Beatriz H. Kiyomoto2
Alberto Alain Gabbai3
RESUMO
As doenças mitocondriais são um capítulo relativamente recente no estudo das doenças humanas e seu entendimento fisiopatológico necessita de uma abordagem genética de cada paciente. O correto funcionamento das mitocôndrias depende da interação de dois genomas, o nuclear e o mitocondrial. Nesta revisão oferecemos uma introdução sobre genética mitocondrial, a atual classificação das doenças mitocondriais, discorrendo brevemente sobre as apresentações clínicas. Unitermos: Mitocôndria, citocromo-c oxidase, DNA mitocondrial, doenças mitocondriais.
Introdução
A primeira doença mitocondrial foi descrita por
Ernester et al.1, em 1959, sobre um paciente eutiroideano que apresentava longo histórico de sintomas relacionados a um estado de permanente hipermetabolismo com alterações morfológicas e bioquímicas da mitocôndria (doença de Luft). Somente na década de 1970 é que outras doenças mitocondriais começaram a ser descritas, principalmente seus aspectos bioquímicos. O termo “encefalomiopatia mitocondrial” foi introduzido em 1977 por Shapira et al. 2.
Apesar de o conhecimento de que a mitocôndria possui seu próprio DNA (DNAmt) ser antigo3 (1963), a caracterização completa da seqüência nucleotídica do DNAmt humano só foi desvendada em 1981 por
Anderson et al. 4. Essa descoberta tornou possível fazer a ligação entre as alterações bioquímicas, estruturais e histopatológicas das doenças, até então descritas, com várias mutações do DNAmt. As primeiras descrições de mutações no DNAmt deram-se
em 1988, com os trabalhos de Holt et al.5 e Wallace et al. 6. Até 1992, apenas 5 mutações haviam sido descritas. Em 9 anos de pesquisa, a partir de então mais de 100 mutações de ponto diferentes foram publicadas (128 mutações descritas até abril de 2001)7 e muito mais ainda se espera descobrir com o seqüenciamento do genoma nuclear