Do Cabaré ao Lar
Na primeira resenha falei sobre os conceitos de fábrica higiênica e satânica e remodelação dos ambientes de trabalho e da necessidade dos fabris de assemelhá-lo ao ambiente do lar. Agora Margareth Rago explicita sobre o papel da mulher nesta mudança de paradigma. Neste momento cabia a ela ser a “soberana” do lar, vigiar cada membro, seus horários, hábitos, prevenir qualquer desvio. Às mulheres pobres deveriam ter como modelo a postura da mulher burguesa. Forja-se uma representação simbólica: frágil, delicada, sentimental, vigilante, esposa-mãe-dona de casa e assexuada. Sua função essencial não era mais as longas jornadas dentro das fábricas, mas sim dentro do lar executando suas tarefas domésticas e exercendo a sagrada maternidade.
“Pouco importam os vários artigos que na imprensa operária cobram uma maior participação feminina nos movimentos reivindicativos de classe. Na prática, esses movimentos eram controlados por elementos do sexo masculino, que certamente tinham maior liberdade de circulação, maior acesso à informação e maior organização entre si. As mulheres deveriam participar enquanto filhas, esposas ou mães, isto é, na condição subordinada dos líderes.”
Neste período estabelecia-se o confinamento da mulher na esfera privada da vida doméstica e realizar-se através das conquistas do marido e dos filhos. E para as mulheres que não abandonaram seus postos de trabalho, cabiam sempre cargos de assistência e ajudantes sem nenhum poder de decisão. A imagem da mulher era retratada como servil por natureza, mãe-sacrifício.
O Mito do amor materno
O discurso que sustentará o mito do amor materno parte da classe “científica” dos médicos