Diário do Último Ano - Florbela Espanca

Oral de Português Neste excerto do diário de Florbela Espanca, iniciado em Janeiro de 1930, a autora revela o seu estado de solidão e amargura. Este diário abrange o seu último ano de vida. Florbela Espanca foi uma poetisa portuguesa que, embora tenha vivido pouco tempo, viveu-o com muita agitação e conseguiu transmitir o sofrimento e o cansaço que houve na sua vida, em grandes obras poéticas. “Diário do Último Ano” é um livro autobiográfico que transmite reflexões, confidências, comentários e desabafos da autora. Neste excerto, Florbela Espanca deixa transparecer que não tinha nenhum objetivo quando escreveu a obra e que esta não foi escrita propositadamente para ninguém. Porém, mais à frente, podemos ler a seguinte passagem: “Quando morrer, é possível que alguém, ao ler estes descosidos monólogos (…) se debruce com um pouco de piedade, um pouco de compreensão (…)”, o que veio contradizer a sua afirmativa inicial. Com a expressão “descosidos monólogos”, a poetisa diz-nos que não os escreveu com um fim, mas por gosto à escrita. Foi escrevendo frases, de acordo com as emoções sentidas e não apenas para obter uma obra final. No entanto, também transmite a ideia de que gostaria que alguém lê-se o seu trabalho e lhe desse reconhecimento. Dá-nos a ideia de que foi uma mulher com grande experiência de vida e que sofreu bastante. Define-se como “honesta sem preconceitos, amorosa sem luxúria, casta sem formalidades, reta sem princípios e sempre viva”, que, segundo ela, é o oposto de muita gente, o que faz com que se sinta injustiçada pois, ao contrário dela, muitas mulheres, que nem sempre merecem, estão “vestidas de cor-de-rosa”. A poetisa, pelo contrário, compara a sua vida aos movimentos de um fantoche, do qual ela diz já conhecer “todas as contorções”, o que nos demonstra que ela acha que já passou por todas a experiências que tinha que passar e que, tudo o que lhe iria acontecer no futuro, ela já tinha vivido igual ou pior. Transmite-nos a ideia de que viveu