Diálogo de Foucault com a Psicanálise
Se em geral uma teoria cientifica tende a construir formulações que preencham uma falta de saber, oferecendo domínio em relação ao objeto que se estuda, a psicanálise se diferencia ao propor uma relação especial com seu saber. A maneira própria, que se configura também uma ética, de a psicanálise se relacionar com seu objeto pesquisado, o homem e sua psique, e de produzir conhecimento sobre ele, parece ter sido um dos pontos de afinidade de Foucault com a psicanálise. Talvez este ponto tenha sido responsável pelos maiores elogios feitos pelo filósofo. Assim, quando no último capítulo de “As palavras e as coisas” (1966), Michel Foucault sela sua admiração pela psicanálise, considerando-a uma contraciência que questiona radicalmente o projeto de um saber “científico” sobre o homem, temos um dos momentos de maior elogio de Foucault a psicanálise.
Nota-se que o diálogo de Foucault com a psicanálise é marcado por elogios e criticas, tendendo cada vez mais para o lado da crítica que, por sua vez, são cada vez mais severas. Em 1976, quando publica o primeiro volume da História da sexualidade, intitulado “A vontade de saber”, Foucault dirige à psicanálise aquela que foi provavelmente sua maior crítica, ao inscrevê-la imersa na engrenagem dos mecanismos do biopoder. Se seus livros anteriores já apresentavam críticas ao pensamento freudiano, estas eram sempre matizadas e se alternavam a elogios que se dirigiam principalmente a desconstrução de paradigmas que o pensamento psicanalítico propiciava. No entanto, no momento da História da sexualidade Foucault tece sua critica decisiva acusando as relações de poder que estariam presentes no interior da psicanálise.
A reflexão sobre as relações de poder presentes nas instituições psicanalíticas e na situação de análise foram, ao meu ver, um dos principais pontos do curso que tivemos ao longo do semestre. Nele, a acusação de Foucault pôde ser adotada como um