Sexuação e formas contemporâneas de representação
Maria Cristina Poli
O artigo se propõe a trabalhar o ponto de enlace entre o singular do sujeito sexuado e os modos de representação, culturais por princípio. Acompanhamos os passos de Foucault que, através do debate com Magritte, contextualiza as vicissitudes da representação nos permitindo abordar, desde a perspectiva da psicanálise, sua relação com a sexuação.
Filosofia, arte e psicanálise são práxis distintas, porém estão mergulhadas no mesmo caldo cultural, precisando ter seus debates atualizados.
Palavras-chave: Corpo, arte, psicanálise, Lacan, Freud, Foucault
* Esse artigo é resultante do trabalho de pesquisa “O campo da linguagem na fala e na escrita como fundamento do discurso e da experiência psicanalítica”, financiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia/Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – MCT/CNPq.
Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, v. 12, n. 2, p. 303-315, junho 2009
O mundo gosta de denegrir o brilhante e arrastar na lama o sublime.
(Schiller, 1801, apud Freud, 1910)
Fetichismo: o corpo como obra de arte
No texto que escreveu sobre Leonardo da Vinci, Freud (1910)faz algumas de suas mais audaciosas interpretações do enlace entre criação artística e disposição pulsional. Encontramos nesse texto o elo, muitas vezes perdido, entre dois importantes operadores no diálogo da psicanálise com a arte e com a cultura: a sublimação e o fetichismo.
Eles colocam em causa, também, o laço entre representação e corpo sexuado, de um modo que precisa ser explicitado. Podemos iniciar sua abordagem pela origem do termo “fetiche” – representante dos deuses e elemento de culto sagrado – que indica o apoio das representações religiosas na atividade sexual:
Os dados trabalhosamente reunidos pelos investigadores da civilização nos proporcionam a certeza de que os genitais constituíram primitivamente o orgulho e a esperança dos homens; foram objeto de um culto