O documentário Estamira traz uma reflexão acerca da exclusão, da desigualdade social e da marginalização do indivíduo na sociedade atual. Moradora de uma cidade dita maravilhosa, famosa por sua beleza, Estamira mora e sobrevive diante de outra realidade, suja, precária e de exclusão social, à margem de toda beleza e riqueza de seus arredores, representando a antítese de uma vida ideal. Atualmente, a sociedade é regida pelo pensamento cartesiano, que historicamente definiu uma ruptura entre os sujeitos racionais e os ditos irracionais. Enquanto o sujeito da razão é regido pelo pensamento científico e mecanizado, o sujeito da desrazão é figurado pela loucura. Considera-se por este ponto de vista, que qualquer indivíduo que fuja do convencionado como racional, seja um alienado, sendo por fim marginalizado da sociedade. Estamira nos leva à analise da individualidade e da subjetividade do sujeito, que dentro de sua história foi marcada por inúmeros traumas, violências e miséria, se tornando única e peculiar. Em algumas de suas falas, Estamira se mostra lúcida na avaliação de fatos que a rodeaiam, como sua vida no lixo, sua internação forçada pelos filhos em uma instituição de cuidados mentais e sobre a desumanização do homem em geral. Sua percepção do mundo é totalmente única e atordoante, entrelaçados com momentos de delírio e sabedoria. Sendo a subjetividade produto das redes históricas e de tudo o que cerca e presencia o indivíduo, incluindo suas crenças e leis, é por fim descentralizada deste, tornando essa subjetividade em algo coletivo. Estamira se distancia dos padrões determinados socialmente, quando possui suas próprias convicções, certezas e foge do pensamento comum, tornando a sua subjetividade singular, o que em nossa sociedade, a torna um ser alienado,