Discurso de aristofanes
Symposium
É diferentemente de Pausânias e de Erixímaco que Aristófanes se propõe a falar, no Symposium.
Em vez de discursar como um orador, ele encarna o papel de sacerdote para introduzir (eisegésasthai) os presentes no poder do amor. Assim, como ‘sacerdote do amor’, o comediógrafo pretende desbravar os
‘mistérios’ da natureza amorosa para que, posteriormente, os ouvintes possam ensinar uns aos outros o que aprenderam com o ‘mestre’.
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Efetivamente, a história de Aristófanes sobre os primórdios da natureza humana é uma das mais instigantes e sugestivas de tudo o que até hoje já foi escrito sobre o tema. A narrativa não só explica o porquê somos o que somos, o porquê amamos da maneira como amamos, mas também confere os motivos para a existência da homossexualidade e da heterossexualidade. Conta o comediógrafo que, no princípio, nosso corpo era bem diferente do que é hoje: formados éramos por um conjunto de quatro mãos, quatro pernas, dois conjuntos genitais e uma cabeça com dois rostos. E três eram os gêneros: sendo o masculino descendente do sol (tôu héliou), o feminino da terra (tês gês) e o que era formado por ambos os gêneros descendia da lua (tês selênes).
A explicação física da origem dos homens dada por Aristófanes é, talvez, física à maneira dos filósofos naturalistas. Semelhante ao Sócrates cômico, o Aristófanes platônico além de ser descrito como um sacerdote, também parte de investigações físicas em busca de explicar o que se propôs. Ele desdiviniza os astros e a terra: em vez de Apolo, o sol é hélio, ou seja, o mesmo sol que do alto do cesto Sócrates olhava com ar circunspecto. Assim, somos descendentes dos astros materializados, não divinos e, originariamente, éramos o dobro do que somos hoje, ou seja, éramos inteiros.
Segundo o poeta, o desejo entre amantes e amados é decorrente do corte que sofremos por Zeus.
Outrora, sendo muito mais fortes e velozes do que hoje, os humanos