direito e economia
José D’Assunção Barros
O nosso objetivo neste artigo será examinar um aspecto específico da obra de Karl Marx. Enfocaremos a produção deste autor na primeira fase de sua realização intelectual, e mais especificamente a sua relação com a temática da alienação. Para compreender essas complexas relações, será adequado relembrar algumas características e influências que já despontam no Marx da primeira fase, mesmo que, de modo geral, elas já sejam conhecidas de todos aqueles que estão familiarizados com o materialismo histórico.
Um primeiro ponto a considerar, quando se fala em materialismo histórico, é o papel da dialética neste paradigma. Aqui, o pensamento de Marx não se superpõe necessariamente nem ao materialismo histórico – paradigma que ele mesmo funda com Engels, mas que seguirá adiante como construção coletiva de inúmeros intelectuais – nem ao “marxismo”, se considerarmos esta designação para representar o programa de ação política que adquire inúmeras variantes no século XX (e que, portanto, também se transforma em uma multifacetada obra de criação coletiva). Marx, um “materialista histórico” que chegou a afirmar certa vez, ironicamente, que não era “marxista”, possui um pensamento próprio que inclui as bases gerais do materialismo histórico, mas que o transcende em características que já são próprias de sua produção intelectual específica. O próprio Marx não coincide consigo mesmo se considerarmos dois momentos distintos de sua produção, e muito habitualmente se fala em um “jovem Marx” e em um Marx já maduro, cuja produção inte-
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O conceito de alienação no jovem Marx, pp. 223-245
1. No Posfácio à segunda edição alemã de O capital (escrito em janeiro de 1873), Marx registra a enorme importância da dialética de Hegel para a filosofia e seu próprio trabalho. Por outro lado, ele nunca foi um
“discípulo” de Hegel e não se via como um hegeliano.