Direito canico
20 de dezembro de 2012 | 2h 03
Texto de Fernando Reinach - Jornal O Estado de S.Paulo
A solidariedade é uma das características que definem nossa espécie. É comum observar pessoas que sacrificam seu bem-estar e conforto para cuidar de incapazes. Abandonar inválidos à sua própria sorte causa repulsa e reprovação social. Mas quando surgiu essa característica tão humana? Paleontologistas vêm tentado desvendar esse mistério analisando esqueletos de nossos ancestrais.
É bastante comum encontrar esqueletos que demonstram que nossos ancestrais e seus parentes sobreviviam mesmo quando sofriam acidentes ou nasciam parcialmente incapacitados. O esqueleto de um neandertal denominado Shanidar 1 é um bom exemplo. Shanidar 1 sobreviveu muitos anos após ter perdido seu braço direito e sofrido um trauma craniano. É bem provável que ele tenha recebido ajuda de companheiros nos momentos seguintes ao acidente (ou luta) e mais tarde o grupo tenha se acomodado para incorporar essa pessoa parcialmente incapacitada. Mas é difícil saber que tipo de ajuda e por quanto tempo esse indivíduo a recebeu antes de morrer.
Caso semelhante é o do esqueleto de um anão do Paleolítico chamado Romito 2, descoberto na Itália. Dada sua pequena estatura e deformações nos membros superiores e inferiores, é quase certeza que tinha enormes dificuldades de locomoção. Paleontólogos creem que, para sobreviver em uma comunidade de coletores e caçadores, que andavam quilômetros por dia, Romito 2 deve ter recebido ajuda. De novo, é difícil determinar quanto de ajuda Romito 2 recebeu.
Melhor exemplo. O esqueleto que talvez demonstre melhor a solidariedade de nossos ancestrais foi descrito em 2009. Um cemitério neolítico de mais de 3,5 mil anos, chamado Man Bac, no Vietnã do Norte, próximo à vila de Bach Lien, foi escavado entre 1999 e 2007. Lá foi encontrado MB07H1M09, ou M9. Ele foi encontrado curvado sobre si e o que chamou a atenção foi a atrofia das pernas e braços, com