Diplomacia e política doméstica
TEXTO FUNDAMENTALSOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 18, Nº 36: 147-174 JUN. 2010
DIPLOMACIA E POLÍTICA DOMÉSTICA:
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A LÓGICA DOS JOGOS DE DOIS NÍVEIS
Robert D. Putnam
RESUMO
A política doméstica e as relações internacionais com freqüência são inextricavelmente vinculadas; todavia, as teorias existentes (particularmente as estatocêntricas) não levam adequadamente em considerações tais vínculos. Quando os líderes nacionais devem obter as ratificações (formais ou informais) dos membros de seus parlamentos para um acordo internacional, seus comportamentos em negociações refletem os imperativos simultâneos tanto de um jogo de política doméstica quanto de um jogo de política internacional.
Usando exemplos de cúpulas econômicas ocidentais, das negociações do Canal do Panamá e do Tratado de
Versalhes, dos programas de estabilização do Fundo Monetário Internacional, da Comunidade Européia e de muitos outros contextos diplomáticos, o artigo oferece uma teoria da ratificação. Ele enfatiza o papel das preferências, coalizões, instituições e práticas domésticas, das estratégias e táticas dos negociadores, da incerteza, das reverberações domésticas das pressões externas e o papel dos interesses do negociador-chefe.
Essa teoria de “jogos de dois níveis” também pode ser aplicável a muitos outros fenômenos políticos, tais como a dependência, os comitês legislativos e as coalizões multipartidárias.
PALAVRAS-CHAVE: jogos de dois níveis; negociações; política interna; política externa; diplomacia.
I. INTRODUÇÃO: O ENTRELAÇAMENTO DAS
POLÍTICAS DOMÉSTICA E INTERNACIONAL2
A política doméstica e as relações internacionais estão sempre entrelaçadas de alguma forma e nossas teorias ainda não desvendaram esse quebra-cabeça. É infrutífero debater se a política doméstica realmente determina as relações internacionais ou se é o inverso. A resposta para essa questão é clara: “Algumas vezes uma influencia a outra”. As perguntas mais interessantes são:
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