Diogenes Cinismo
Gilmar Zampieri
Procura-se o homem Diógenes. Não que ele tenha se escondido ou seja um foragido. Sequer foi um perigo. Ou talvez tenha sido e por isso a tradição livrou-se dele punindo-o com o ostracismo intelectual. O ostracismo oficial grego significava a expulsão política e o exílio, por dez anos, daquele indivíduo que se afigurava como um inimigo potencial do Estado. Já o ostracismo imposto aos cínicos, e entre eles Diógenes, foi bem superior a dez anos. Após a forte influência exercida pelos cínicos junto aos estóicos e na cultura do período imperial em geral, os cínicos praticamente se retiraram da cena filosófica e em boa medida sequer foram considerados filósofos, opinião essa validada por Hegel nas suas lições de história da filosofia ao dizer que “não há nada particular a dizer sobre os cínicos, pois eles possuem pouca filosofia e não colocaram o que tinham num sistema científico” (HEGEL, 1955, p. 128).
A despeito dessa posição avaliativa, os cínicos renascem atualmente com uma avaliação menos pré-conceituosa, devolvendo-lhe o mérito de um movimento filosófico sério e com interesse duradouro (GOULET-CAZÉ;BRANHAM, 2007, p. 11ss). A sua ressurreição coincide com outras, tais como o epicurismo e ceticismo, típicas de períodos de crise e, sobretudo, períodos de enfraquecimento do político, do ideológico e do metafísico, como é nosso tempo pós-moderno. Não pretendo estabelecer aqui um balanço histórico da filosofia dos cínicos com possíveis incursões sobre a tradição socrática e/ou a recepção dos cínicos ao longo da história da filosofia, a não ser naquilo que se afigure como indispensável para compreender o seu representante mais genuíno: Diógenes. É Diógenes, sua vida e pensamento, quem motiva este breve texto. Diógenes que, em pleno dia, irônica e provocativamente saía pelas ruas da Grécia e pronunciava o dito “procuro o homem”. O “procuro o homem”, contudo, não é só uma ironia, mas um dito de alto alcance ético,