Despolitização e novos poderes
O surgimento de uma nova política
“Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo.”
Karl Marx, Teses sobre Feuerbach
Introdução
O presente texto constitui-se como uma reflexão feita a partir dos assuntos abordados no 27º Encontro de Filosofia, subordinado ao tema “Da necessidade de retorno da política” e da Acção de Formação “Despolitização e novos poderes”, na qual foi solicitada a elaboração de um artigo científico ou académico, comummente designado por paper. Antes de apresentar a introdução, propriamente dita, segundo as normas estabelecidas, queria salientar que a utilização deste termo paper suscita, por si, algumas considerações, pois pode-se revelar sintomática da hegemonia de um modelo cultural (no qual está incluída também a esfera política). De facto, assistimos à crescente utilização de termos anglo-saxónicos na nossa língua – briefing, framework, input e output, modelo swot, etc. Tal facto até nem é novidade, pois vários autores consagrados, como Eça ou Dostoiévski usaram frequentemente termos importados de outras línguas. Note-se que este comentário não tem um carácter pejorativo nem traços de xenofobia; eu próprio utilizo, sem complexos de culpa ou de rejeição, termos como abajur (abat-jour), tchau (ciau) ou até bué. Poderíamos até supor que a globalização da língua está em paralelo com a globalização mercantil. No entanto, o termo paper não deixa de ser curioso e simultaneamente, revelador. Ao questionar um amigo académico, a sua resposta foi elucidativa - toda a gente o usa. Esta explicação quase me deu uma esperança – será que a democracia vai chegar pela via da linguagem? No entanto, a minha crença no primado da acção sobre o pensamento desfez-ma – julgo que é pela e na práxis que este sistema político se pode realmente implementar e recriar, sendo o pensamento e o discurso dela derivados e, eventualmente,