OS REQUINTES DA MISÉRIA Já se tornou um aborrecido lugar-comum afirmar que o Brasil possui dimensões continentais. Os ufanistas que tanto repisaram essa fórmula para receitar esperança no futuro do país talvez não tenham previsto que a quantidade e a variedade de problemas desse "gigante" infelizmente também teriam grandezas igualmente continentais. Recente levantamento feito pelo Centro de Referências, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes do Distrito Federal arrolou nada menos que 13 tipos de exploração sexual de menores em 20 Estados. A lista leva a supor que, desgraçadamente, para muitos brasileiros, a atividade sexual já deixou de ser um meio de prazer e realização, para se transformar em passaporte de entrada no mais dantesco dos infernos possíveis. De norte a sul do país, segundo a pesquisa, a iniciação sexual de milhares de menores ocorre por meio de exploração turística, prostituição em garimpos, navios e grandes centros urbanos, escravidão e tráfico, estupro, incesto e abuso sexual domésticos, leilões de virgindade, mutilações, homicídios e encarceramento. Só na região metropolitana de Belém (PA) existem pelo menos 7,5 mil prostitutas entre 12 e 18 anos. Nem mesmo os Estados mais ricos do Sudeste e Sul do país estão livres desse odioso mercado do sexo infantil. A cada nova amostragem das dimensões que vão assumindo a mi- séria e todas as perversões que a ela se associam no Brasil, corre-se o risco de que o país alcance notoriedade não por suas enormes potencialidades, mas pela diversidade de aberrações que foi capaz de produzir algumas delas, infelizmente, com alta cotação no mercado internacional. Torna-se inevitável assim constatar que o desafio da modernização do país não pode estar dissociado de um resoluto combate a todas as formas de desigualdade e exclusão social, a começar das que já atingiram os extremos da