Desconstrução heideggeriana da psicanálise

16462 palavras 66 páginas
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Além do inconsciente: sobre a desconstrução heideggeriana da psicanálise

Zeljko Loparic
UNICAMP/PUCSP

Resumo: O presente artigo propõe-se a estudar a desconstrução heideggeriana da teoria clínica e da metapsicologia de Freud à luz do método fenomenológico construtivo-desconstrutivo. Depois de caracterizar a teorização psicanalítica como devedora da metafísica da subjetividade objetificada, o artigo mostra em que sentido se pode dizer que essa metafísica oculta o modo de ser originário dos seres humanos para, em seguida, examinar a crítica heideggeriana dos elementos dessa metafísica, embutidos tanto na teoria clínica como na metapsicologia de Freud.

Palavras-chave: desconstrução, subjetividade objetificada, psicologia clínica, metapsicologia, psicanálise sem metapsicologia.

Abtsract: The aim of this article is to study Heidegger’s deconstruction of the Freudian metapsychology as well as of his clinical theory by means of the phenomenological method. After characterising the psychoanalytic way of theorising as determined by metaphysics of objectified subjectivity, it proceeds to show in what sense it can be said that this metaphysics conceals the original mode of being of man, in order to examine next Heidegger’s criticism of elements of this metaphysics which became part and parcel of the Freudian clinical theory and metapsychology.

Key-words: deconstruction,

objectified subjectivity,

metapsychology-free psychoanalysis.

clinical psychology, metapsychology,

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1. O “conceito fatal” de inconsciente

Numa carta de 1960 a Medard Boss, Heidegger chama de “fatal” a “distinção entre o consciente e o inconsciente” (Heidegger 1987, p. 319). Heidegger concebeu essa idéia já muito antes da carta a Boss. Nas preleções sobre O hino “Der Ister” de Hölderlin, do semestre de verão de 1942, ao opor a sua concepção pós-metafísica da verdade como
“abertura” ao que Rilke chamou de “aberto”, Heidegger afirma:

E visto que, desde a

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