O que devo fazer abril de 2013
Flávio Eustáquio Bertelli*
Não é novidade que hoje em dia uma das perguntas mais ouvidas, tanto na cena analítica quanto no nosso cotidiano, é 'o que devo fazer?'. A resposta trivial envolveria a explicação sob os focos da resistência ao processo analítico ou de uma modalidade do acting-out. Mesmo que isso seja verdadeiro, é preciso ir mais adiante, chegando, inclusive, a colocar em pauta alguns dos impasses atuais enfrentados pela psicanálise e pelos psicanalistas.
Embora desde a década de 20 do século passado tenhamos notícia da prática da psicanálise no Brasil, ela somente tornou-se elemento importante na nossa história cultural e clínica nas décadas de 60/70, chegando ao boom na década seguinte. A partir daí a chegada dela a todo o território nacional foi um fato, incluindo-se nos dispositivos do imaginário coletivo, passando pelas mídias de massa, pelos folhetins televisivos e pela literatura acadêmica.
Aquilo que acontecera na década de 60 nos Estados Unidos e na França na década de 80, iria se repetir aqui na década de 90: a crise anunciada foi apresentada de fato, não só aos psicanalistas, mas também às suas associações. De um lado, o surgimento de outras ofertas psicoterapêuticas e da psiquiatria medicamentosa, cujas 'respostas rápidas' começaram a seduzir especialmente a classe média, principal usuária da psicanálise clínica; de outro lado, a própria crise financeira dessa mesma classe média, ocasionando uma substancial diminuição da demanda, foram fatores geradores de grande perda do poder social que a psicanálise até então mantinha.
Apesar de tudo isso ser verdadeiro, não podemos ficar surdos, mudos e muito menos imunes a outras transformações que aconteceram nas últimas décadas e que tiveram, no mínimo, tanto impacto quanto essas situações. Elas são de caráter político-ideológico, num processo abrangente de mutações que produziram maior dissonância entre a psicanálise e os ambientes histórico/culturais que emergiram na segunda metade