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São evidentes os pontos positivos de tanta informação. Mas talvez haja um lado perverso
Jovens de 14, 15 anos têm Renato Russo como ídolo. O líder da Legião Urbana morreu em 1996, mas os fãs de hoje talvez nem saibam, ou não se importem.
Porque Russo está vivo na internet, mais precisamente nos 27,8 mil vídeos que são obtidos ao se digitar "Renato Russo" ou "Legião Urbana" no campo de buscas do YouTube.
Estão lá as coreografias espasmódicas, como as de Ian Curtis (do Joy Division). O visual florido igual ao de Morrissey (dos Smiths). O mico no especial de Natal do Chacrinha, com a banda toda de chapeuzinho de Papai Noel. As letras sem fim, simplórias, mas sinceras. Renato Russo, vivo em voz e rosto. E essa perenidade on-line não é exclusividade dele. É geral.
O YouTube matou o passado. Além de exterminar mistérios e mitos.
Os Beatles fizeram um show em cima de um prédio, em 1969. Loucura! Soava como lenda para a meninada do meu tempo. Esse tipo de sentimento acabou. As lendas juvenis se tornaram realidade palpável. Basta procurar na web por "Beatles rooftop concert". Show na íntegra, em alta definição.
Os Sex Pistols falando palavrões na TV inglesa, em 1976, num dos momentos mais marcantes da história do rock? A cena está na web. David Byrne em 1983, tenso, mordendo os lábios, incapaz de se comunicar com o apresentador David Letterman? Está on-line também. No século passado, um amigo dizia: "Das minhas dez bandas favoritas, nove eu nunca escutei". Explicando: só conhecíamos aqueles grupos no papel, em revistas e em jornais importados.
Fotos espetaculares, nomes impossivelmente sonoros: Alien Sex Fiend, Sex Gang Children, June Brides, Inca Babies. Que som faziam? Não tínhamos ideia, exceto uma vaga noção de que deveria ser "dark" (o que atualmente é chamado de gótico). Hoje, essa paixão misteriosa seria impensável. Haveria dezenas de clipes na rede. E os exemplos não ficam só na música. Na ciência, poucos