decartes
Durante a Primeira Meditação, em seus §§ 1-3, Descartes apresenta aquele que é um dos mecanismos mais importantes do seu método, o princípio da dúvida. Segundo M. Gueròult (1968), com esta, Descartes duvida do valor de verdade dos conhecimentos, em uma medida preventiva aos erros a que estamos sujeitos por meio de nossa apreensão sensível. Para o autor, enganos são imediatamente oriundos da imperfeição dos sentidos, fonte de onde provêm a maioria desses conhecimentos. Deste modo, Descartes, por medida de segurança, não se permite assumir nenhuma pretensa certeza, nem mesmo quanto às ciências exatas como a matemática. Utilizando esse princípio, Descartes descrê de tudo que pode ser posto em dúvida. Tal figura apresenta-se e justifica sua utilidade já na sinopse das Meditações, na qual encontramos as seguintes assertivas:
Expõe-se na Primeira Meditação as causas por que podemos duvidar de todas as coisas, principalmente das materiais, ao menos enquanto os fundamentos das ciências não forem diversos dos que temos até agora. E, mesmo que a utilidade de uma dúvida tamanha não apareça de imediato, é ela, no entanto, muito grande por deixar-nos livres de todos os preconceitos, por aplainar um caminho em que a mente facilmente se desprenda dos sentidos e por fazer, enfim, que já não possamos duvidar das coisas que, em seguida se descubram verdadeiras (DESCARTES, 2004, p. 19).
Com a dúvida, o autor pode mobilizar os argumentos que constituem sua investigação. Assim, a Primeira Meditação é inteiramente dedicada à apresentação desta dúvida,