dando nomes aos bois pdf 1
Sobre o diagnóstico na psicanálise
Marcus André Vieira
Clique aqui para ampliar
Referência:
VIEIRA, M. A. . Dando nome aos bois, sobre o diagnóstico em psicanálise. In: Ana Cristina Figueiredo. (Org.). Psicanálise pesquisa e clínica. 1 ed. Rio de Janeiro: IPUB/UFRJ, 2001, v. 1, p. 171-181.
Imperativo ou obsessão?
Vamos partir da seguinte afirmação: o diagnóstico é um problema para o psicanalista.
Decidir, seja nas entrevistas preliminares, seja ao longo do tratamento, se estamos diante de um obsessivo, de um perverso ou de um psicótico, constitui uma árdua tarefa. Entretanto, com esta afirmação quero dizer, sobretudo, que o diagnóstico é um problema porque ele é, em sua essência, contraditório com a análise e que esta é a razão da dificuldade.
Uma segunda proposição torna-se necessária: todo diagnóstico é uma classificação.
Situando-o deste modo, evidencia-se a natureza do problema. Trata-se, ao diagnosticar, de inserir o sujeito em um grupo, de definir algumas propriedades que passarão a representá-lo, com todos os efeitos de mortificação que daí advêm. Por mais que se busque preservar a singularidade, a atribuição de um diagnóstico é necessariamente a atribuição de um juízo de valor, que incorpora o sujeito a uma classe.1 Neste ponto perde-se algo do sujeito, fixado sob um nome e esvaziado de seu caráter evanescente e fugidio, e ganha-se algo de um eu, pois o território do eu é o território das qualidades que se agrupam em constelações imaginárias, constituindo uma classe.
Percebemos então que no diagnóstico há sempre um aspecto de objetivação do sujeito que consolida o peso do eu em detrimento da flutuação subjetiva. Vale ressaltar as consequências de segregação aí implicadas. Delimitar uma classe através da presença ou ausência de um determinado traço, cria um grupo e, ao mesmo tempo, os excluídos do grupo, ou ainda cria um grupo em exclusão a outro e assim por diante.
Não é preciso insistir muito nesta dimensão do diagnóstico que é