Câncer e genética
Drauzio – O caso de Deborah é especial. Nove mulheres da sua família tiveram câncer de mama. No entanto, nem todas as mulheres correm o mesmo risco de desenvolver a doença. Quais são as que têm risco maior?
Sergio Simon – A possibilidade de uma mulher sem nenhum fator de risco desenvolver câncer de mama ao longo da vida é de mais ou menos 12%. Se pertencer a uma família portadora de mutação genética, como Deborah que herdou a mutação, o risco de desenvolver a doença até os 70 anos de idade salta para 80%.
Portanto, o caso extremo de risco é o das portadoras de mutação genética, o que justifica, se elas aceitarem, a retirada profilática da mama. Essas mulheres têm ainda o risco de câncer de ovário muito aumentado. Se numa mulher sem a mutação genética ele é 1,5%, nas que têm a mutação é de 40%. Por isso, a presença de câncer de mama e/ou de ovário em várias mulheres da mesma família sugere que os testes genéticos devem ser realizados. Se for constatada a ocorrência da mutação, cada um de seus membros precisa ser avaliado para determinar os que herdaram a alteração genética, uma vez que esses genes não são necessariamente transmitidos de uma geração para outra.
Drauzio – Essa mutação aumenta o risco de desenvolver outros tipos de câncer?
Sergio Simon – A mutação genética do BRCA1 e BRCA2 aumenta o risco de outros tipos de câncer – câncer de endométrio, de trompa uterina, de pâncreas, de intestino –, mas é um risco muito menor do que o de câncer de mama e de ovário, doenças muito frequentes nesses grupos familiares. Na família de Deborah, por exemplo, há um caso de câncer de ovário.
Drauzio – O que deve chamar atenção para a possível presença de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 numa família?
Sergio Simon – Mulheres jovens com história familiar da doença, com câncer de mama bilateral e, eventualmente, com caso de câncer de ovário na família devem ser encaminhadas para o teste