Cultura portuguesa
ALGUNS ASPECTOS E SUA INTERPRETAÇÃO*
JOSÉ M. AMADO MENDES
(Universidade de Coimbra)
1. Noções de Cultura
Até cerca de meados do século XX, era frequente identificar
"cultura" com as conquistas do espírito, ao longo dos tempos, ao invés de "civilização", mais ligada ao progresso material1
. Porém, nas últimas décadas, graças à evolução, entre outros, dos estudos históricos, antropológicos e sociológicos, tem vindo a reforçar-se a ideia de que não basta falar de cultura, em geral, dada a existência de diversos tipos de cultura. Daí o facto de hoje se usarem frequentemente expressões como: cultura erudita e cultura popular, cultura de elites e cultura de massas, cultura literária, filosófica ou cultura científica ou técnico-científica; cultura material e cultura empresarial; culturas nacionais e culturas regionais, etc.Em sentido absoluto, filosófico e pedagógico-que, a partir de
Cícero, aparece como cultura animi, cultura do espírito —, pode definir-se como «a acção que o homem exerce de si, por si e sobre si, visando uma auto-transformação, ou seja, o processo de evolução do espírito humano, a que podemos chamar o processo de humanização do homem»2
;
Sob o ponto de vista etnológico, A. Jorge Dias definiu cultura como «sistema de ideias, sabedoria, atitudes, técnicas, equipamento material, padrões de comportamento, literatura oral, danças, música, crenças mágicas e religiosas que caracterizam qualquer sociedade e constituem o seu património social»3
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Por último, a partir dos anos 20 do nosso século, começou a ter grande divulgação o conceito de cultura material. Esta tem por objecto a história dos «elementos, das pessoas e das coisas do processo de produção e de reprodução da vida material das sociedades no curso dos diversos estádios de desenvolvimento desses elementos». Estes são assim constituídos: a) os meios de trabalho; b) o objecto do trabalho, ou seja, as